quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Aqua - A água


Não passei nem meia hora contemplando o movimento da água muda.

Quando minha rotina incluiu atravessar a baía todos os dias, a imensidão de águas mudas não me impressiona mais.
E não seria um mero trocado refrescante que na sua efervescência me compraria mais alguns instantes de olhar fixo.
Adquiri o luxo de consumir ‘bem mais que apenas muito’.

Às vezes falo de corpos, de fome, de sede e de vontades, jamais de pessoas. Apenas de seus corpos, individualizando-os.

Alguns personagens são reais e desfilam seus corpos entre mim e minhas palavras (escritas) sem perceber que estão diante de sua própria imagem, projetada e refletida sob a minha óptica, que os devora de maneira sutil e ambígua.

De certo que, eu e minha escrita somos bons aliados, seja confabulando juntos em nosso favor ou um contra o outro. Parceria egoísta, que entre muitas fendas ou é base ou ruínas.
Relação singular ora para o bem, ora para o mal.
Nutrindo os laços ora com bravura, ora com fraqueza.
Oscilando entre lançar veneno e liberar antídoto.

Ela é uma arma precisa, que às vezes também me corta.


A meu favor e contra mim...

terça-feira, 30 de outubro de 2007

Focu - O fogo


Focu

Há velas ao redor,
e a dança das chamas já nos queima.
Eia, cantar-te-ei meus delírios!
Tomai de mim o que em paz te ofereço.

Fuga dos seios aos suspiros
de um fogo puro que arde,
em parte com arte,
e o mais inflama.
Bendito seja quem te ama.

Trazei a mim meu desejo
e teu prazer há de chegar a meus ouvidos
e o suor da tua pele
e o som dos teus gemidos
encherá nosso cálice de vinho.

sábado, 6 de outubro de 2007

Sabor maçã verde

Viúva dos próprios segredos.

Observando de longe alguns desejos pouco ortodoxos.

Aguardando o instante de dissolver substâncias em excesso no organismo.

E como sempre, parecendo ter muitas idéias.


Escrevendo um livro.

Amaldiçoando o próprio corpo por sentir atrações indevidas.

Sentindo a temperatura cair.

Desejando mover as oportunidades.


Querendo rever pessoas.

Não querendo estar a sós com duas delas.

Fingindo que eles não percebem.

Não conseguindo esconder o calor da própria pele.


Vindo nas manhãs.

Partindo nas noites.

Com as chaves no bolso.

E preservativos na bolsa.


Nada comum.

Alias, ninguém jamais pensou que fosse.

Nunca soube ser comum.

Mas nem por isso chama muita atenção.


Fotografando coisas simples

(como a si mesma).

Recortando o foco com as palavras.

Embaçando sentido qualquer que faça.



Tatiane Ramalho - A Iconoclasta